Uma rebelião que tem como troféu a imagem da barbárie. No segundo dia do motim no Complexo Prisional do Curado, no Recife, a morte de um preso, decapitado, esfaqueado e picotado, sistematicamente, por um grupo, enquanto outros registravam a cena para ser divulgada nas redes sociais, é absolutamente estarrecedora.
Não apenas pela violência em si, que é inimaginável para quem não viu, mas também pela facilidade com que os presos têm acesso a celulares, internet e armas.
Que tipo de justificativa pode haver para tamanha violência? E qual o papel do poder público nesse cenário? Trancafiados numa unidade que tem quase 400% a mais de sua capacidade e com 35% dos detentos condenados, o que se pode esperar dos outros 65% não julgados, depois de um estágio sem volta de como se tornar o mais frio dos assassinos.
Talvez a polícia já tenha identificado pelo vídeo, os responsáveis pelo massacre de um só, ontem, mas não necessariamente quem está por trás. Ainda não se sabe se os que esfaquearam já eram condenados ou aguardavam julgamento. O certo é que nenhum deles sairá de lá como entrou.
Não se pode mais fechar os olhos para a situação dos presídios, que se transformaram em depósitos de pessoas, que se barbarizam até para não serem mortas. O motivo apontado da rebelião para pedir mais agilidade nos processos se perde à medida que mais crimes estão sendo cometidos. E são transmitidos pela internet, por eles mesmos.
Por mais bizarro que pareça, ter presos usando whatsApp dentro de um presídio, isto está acontecendo em Pernambuco e pelo visto a restrição de antenas para bloquear sinal da internet não está funcionando.
O whatsApp, que se tornou a ferramenta mais prática na divulgação de mensagens, imagens e vídeos, também foi descoberta pelos detentos. O pior é que a internet, nesse caso, pode ser uma arma para a perpetuação do crime também do lado de fora.
O governo tomou algumas medidas, inclusive a de contratação de mais advogados. Pode ser só uma gotinha em um oceano de mais de seis mil detentos, mas é um começo. E como desgraça pouca é bobagem, a polícia ao invés de ajudar pode se transformar em outro problema.
Seja cruzando os braços, ou atirando para valer. E fica uma pergunta: Dos 29 feridos, no primeiro dia, quantos foram atingidos por bala? Uma vez que nenhuma arma de fogo foi encontrada com os detentos.