Era uma noite aprazível no verão de Camboinha. Estava reunido com a família na casa de amigos, desfrutando dos prazeres a beira mar. Subitamente, percebemos que não estávamos sozinhos. Olhos mecânicos nos espiavam, sorrateiros.
Era um drone, teleguiado por um visitante no mínimo curioso.
Já havia sido apresentado ao robô teleguiado que pode sustentar e transportar cargas. Foi com um equipamento desses que filmamos, no final do ano, a mensagem de Natal do Sistema Correio.
No terraço do prédio na Pedro II, a máquina oscilava entre planos na altura de nossas faces e guinadas até o alto da torre de transmissão, gravando imagens em alta resolução.
Mas drones – assim como praticamente tudo o mais que o homem vem criando ao longo dessa jornada tecnológica – servem para o bem e para o mal.
Depende da mente que o opera.
No parêntese, cabe a jurisprudência das aplicações tecnológicas, cuja revisão não deixa margens para dúvidas: nascidos sob o manto da guerra e da espionagem, que amplamente os financiam, os artefatos modernos podem até nos distrair e reduzir as distâncias, mas quase sempre têm um rastro de sangue em suas origens. Pois muitos deles foram criados para “desempatar” pendengas bélicas.
Só depois aportaram nas prateleiras da nossa diversão.
E mesmo quando usados para fins recreativos, nem sempre a diversão é compartilhada.
Os flagrantes de intimidades que proliferam na internet, alguns com fins trágicos, apontam para a necessidade de repensar como estamos usando as novas tecnologias.
Um dos efeitos maléficos desses artefatos está, sem dúvida, na quebra da privacidade. Não há mais como se esconder dos olhos tecnológicos.
O “Grande Irmão” de George Orwell saiu em definitivo da ficção para a onipresença do dia a dia moderno.
E dele não há como se esconder.
Os drones, em particular, preocupam mais do que as câmaras e flashes portáteis dos celulares, que tantas intimidades já devassaram.
Pois eles embutem uma ameaça que vai muito além da imaginação de Orwell.
Entre recreações e bisbilhotices como a que fomos alvos no veraneio de Camboinha, os drones caminham para nutrir facções criminosas e até terroristas.
Não sem razão, serviços de contraterrorismo do mundo inteiro se mobilizam para tentar neutralizar as múltiplas aplicações danosas desses equipamentos, pouco perceptíveis a radares e com autonomia de voo que a corrida tecnológica promete ampliar.
Quem poderá detê-los?
Já há registros de tentativa de uso de drones, por exemplo, no tráfico de drogas. Cargas foram interceptadas na fronteira do México com os Estados Unidos.
Na Alemanha, a ameaça foi ainda mais temerosa: o serviço secreto germânico detectou robôs que seriam supostamente operados por extremistas de direita para detonar bombas em um acampamento de verão.
O recado mais claro dessa ameaça veio semana passada. Um drone foi detectado em pleno jardim da Casa Branca. O sinal amarelo foi aceso.
Em declaração oficial, o presidente Barack Obama prometeu fazer esforços para garantir a privacidade e a segurança dos americanos, sinalizando para uma regulamentação do uso dos drones.
Assim como em Camboinha, o robô da Casa Branca fazia uma inspeção de “recreação”.
Mas os drones já demonstraram que têm potencial para ir além dessa “brincadeira” não compartilhada, que só diverte os olhos curiosos e invasivos de quem os operam.
Para quem está na mira desses olhos, não há diversão. Só a esperança de que, no horizonte desse mundo sem portas nem tramelas, o Grande Irmão possa enfim ter seus olhos vendados.