Aconteceu o que era previsível: o deputado federal Hugo Motta (PMDB) foi para o olho do furacão. A indicação para presidir a nova CPI da Petrobras, na Câmara Federal, o transformou em baú a ser vasculhado e, na sua história, uma ligação coloca o comando parlamentar das investigações sob suspeita. O deputado paraibano não foi questionado pela inexperiência ou incapacidade de assumir uma Comissão tão importante. Em xeque está a sua independência como presidente da CPI. Motta é um dos integrantes da Comissão que teriam recebido indiretamente dinheiro das empresas investigadas na Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção na estatal. A revelação foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a reportagem, “o favorito para assumir a presidência da comissão, o peemedebista Hugo Motta (PB), de 25 anos, teve cerca de R$ 455 mil (61%) dos R$ 742 mil de sua campanha custeados indiretamente por duas empreiteiras suspeitas. Ele recebeu R$ 255 mil da Andrade Gutierrez via diretórios estadual e nacional do PMDB e por um repasse da campanha do candidato a deputado estadual Nabor Wanderley Nóbrega Filho (PMDB-PB). Outros R$ 200 mil vieram da Odebrecht, repassados a Motta pela direção nacional do PMDB”. Em entrevista à Rádio CBN João Pessoa, o parlamentar paraibano se defendeu. Segundo ele, o dinheiro foi repassado pelo partido, assim como foi feito com vários outros parlamentares do PMDB e, provavelmente, partidos da base. Motta afirmou que não tem nenhuma ligação com os donos das empreiteiras responsáveis pelo repasse. De fato, não há nenhuma ilegalidade na doação, nem muito menos na maneira que o dinheiro caiu na conta de campanha do futuro presidente da CPI. No entanto, o fato é que, quando se assume uma função como essa, qualquer ligação com o que está sendo investigado, gera suspeita. Difícil, na verdade, será encontrar um parlamentar que direta, ou indiretamente, não recebeu dinheiro dos donos dessas empresas, responsáveis por, praticamente, todas as grande obras do país. Por isso, esse tipo de CPI, na qual investigador e investigados têm interesses comuns, está chagada a acabar em pizza e Motta, que ganha visibilidade e respeito ao assumir o cargo, pode ser pressionado a ser só mais pizzaiolo. Não dá para concordar com a opinião de colegas jornalistas e até políticos que afirmam que Hugo está sendo “massacrado” pela mídia porque é um paraibano e vai assumir uma posição de destaque. Na prática, é natural que ao ocupar espaços como esse de grande de visibilidade e responsabilidade, no qual se exige independência e isenção, a imprensa vai exigir, por meio da história política, essas características. Será assim e foi assim com políticos de qualquer estado. O próprio Hugo já declarou ter a certeza que a vida política fica cada vez mais exposta ao assumir a empreitada. Como já disse aqui, a maior pressão não será da mídia, mas dos próprios colegar de CPI e de parlamento que não desejam o avanço das “revelações”, afinal, muitas delas podem ser indigestas. O neto de Francisca Motta (PMDB), prefeita de Patos, entrou no meio de um furacão e vai ter que pagar o preço por isso.