Rejeição a políticos em pesquisa mostra eleitor exausto; renovação da confiança depende de mudanças radicais
Protesto contra a Presidente Dilma, na região do Ibirapuera (Foto: Estadão Conteúdo)Além da queda tonitruante na avaliação dos governos, o dado que causa mais perplexidade na pesquisa Datafolha divulgada no final de semana é o que revela a rejeição dos eleitores a seus representantes. A cada dez brasileiros, sete dizem não ter partido de preferência. A época dos protestos de junho de 2013, eram seis para cada dez. Entre dezembro de 2014 e janeiro deste ano, a parcela dos eleitores que dizem, em resposta espontânea, ter o PT como seu partido favorito caiu de 22% para 12%. Na época do mensalão, o nível mais baixo tinha sido de 15%. Os que optam pelo PSDB são 5%, e pelo PMDB, 4%.
O poder público está perdendo legitimidade. Cresce a suspeita mútua entre as autoridades e os cidadãos. Essa desconfiança crescente tem derrubado até regimes ditatoriais. O filósofo italiano Giorgio Agambem, em entrevista no final do ano passado, apontou que a crise marca o momento decisivo da enfermidade. ”A crise está continuamente em curso, uma vez que permite que as autoridades imponham medidas que nunca seriam capazes de fazer funcionar em um período normal. A crise corresponde perfeitamente – por mais engraçado que possa parecer – ao que as pessoas na União Soviética costumavam chamar de ‘a revolução permanente’”.
É o argumento de reação à crise que permitiu o governo Dilma Rousseff (PT) fazer no início do segundo mandato o que rejeitara na campanha eleitoral, assim como ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) negar a óbvia falta de gerência e transparência na questão da água em São Paulo. Por assim dizer, é o combate a crise o argumento dos governantes para que palavras empenhadas e promessas políticas não sejam cumpridas. A revolução permanente dos compromissos só é revolução porque arrasta os alinhamentos históricos não porque muda a base social ou política de algo.
A vitória na Grécia de um partido desvinculado com os compromissos de uma austeridade fracassada caminha para se repetir na Espanha, onde o Podemos lidera as pesquisas. Mais do que renovação essas opções demonstram a exaustão do eleitorado. De certa forma, é o que a pesquisa Datafolha flagrou neste momento. Estará o Brasil neste caminho nas eleições próximas?
Como renovar a política de modo a aumentar a confiança dos eleitores nos políticos? É preciso renovar os canais de representação. As ferramentas de escolha têm de ser aperfeiçoadas. É preciso um choque de transparência na relação entre as duas pontas. As instituições têm de se mostrar fortes para combater as reações corporativistas. Têm de assumir o lado daqueles que são a origem do seu poder, os cidadãos.
Os políticos, como categoria corporativa, continuam a pensar na sobrevivência imediata, sem dar-se conta que poderão ser apeados do poder não por reação, mas por exaustão.