Se um jornal local apresentasse a padroeira do Brasil de forma desrespeitosa, indo além do que fez o pastor que chutou sua imagem na TV, como você reagiria? – Por Lúcio Villar
A estúpida chacina praticada em solo francês comoveu e indignou. Feito rastilho de pólvora, a mídia capitalizou o fato jornalístico através do slogan “Je suis Charlie”, abraçado por meio mundo, inclusive entre nós, muitos dos quais nem sequer sabiam da existência do cáustico jornal parisiense.
Todos, porém, de pronto atenderam e vestiram a camisa. Evidente que o terror instalado em Paris com 12 vítimas fatais ao seu final merece unilateral condenação, não havendo nisso qualquer vestígio de dúvida.
Mas…
Fato 1 – Dada a comoção e cobertura ininterrupta, predominou estranho direcionamento na ‘contextualização’ do fato, em si, expurgando o que esse último carrega de complexidade. Tudo se resumiu a uma genérica defesa da ‘liberdade de expressão’, como se no Brasil a mídia fosse modelo de alguma coisa…
Fato 2 – Com isso, os filtros oferecidos pelos grandes conglomerados mundiais de mídia não ultrapassaram o discurso contra o terrorismo e a ‘islamofobia’, já inserida na França com partidos de extrema-direita ganhando força e contaminando o velho mundo com bandeiras xenófobas e fascistas que também atingem a Alemanha.
Pergunta incômoda: se um jornal local apresentasse a padroeira do Brasil de forma desrespeitosa, indo além do que fez o pastor que chutou sua imagem na TV, como você reagiria? E, elevando a potência, se o próprio Jesus Cristo figurasse em cartuns com trajes sumários, simulando orgias com Maria Madalena e seus discípulos? Alguém vestiria a camisa dessa publicação?!…
Então vamos combinar: condenar o terrorismo e todas as formas de violência e intolerâncias, sim! Mas, devagar com o andor; mexer com símbolos e imagens sagradas impõe limites e respeito. Longe de insinuar justificativa para o massacre, respeito a diversidade religiosa e sinto informar: eu não sou Charlie.