maio 03, 2017 Destaque, Política 757
Está completando um ano que se deu o impeachment de Dilma Rousseff, primeira mulher presidente da República do Brasil. Dilma não está nem um pouquinho preocupada em extrair lições do processo doloroso que de algum modo arranhou as instituições. Ela continua se colocando no papel de vítima – da misoginia, do sentimento machista, da quartelada […]
Está completando um ano que se deu o impeachment de Dilma Rousseff, primeira mulher presidente da República do Brasil. Dilma não está nem um pouquinho preocupada em extrair lições do processo doloroso que de algum modo arranhou as instituições. Ela continua se colocando no papel de vítima – da misoginia, do sentimento machista, da quartelada parlamentar. É mais cômodo para a ex-presidente continuar desfraldando a bandeira do “golpe”. Isto a poupa de ter que dar explicações sobre atos que cometeu e que estavam fora dos ritos democráticos ou legalistas.
Rousseff adora cultivar rótulos. Durante um bom período foi a vítima da ditadura civil-militar de 1964. É fato que ela foi torturada e que há relatos de monta confirmando tudo isto. Mas inúmeras outras pessoas passaram pelo pau-de-arara do regime autoritário e nem por isso tiveram a possibilidade de ascender à presidência da República. No campo do sentimentalismo, em que é pródiga, Dilma incentivou a balela de que era a Mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Malandro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva percebeu aí a chance de projetar a candidata, que até então era tida como um poste. Deu certo. Houve uma transfusão de votos pouco comum na história política brasileira.
Enfim, veio o processo de impeachment, forrado por provas de autos que incriminam a ex-mandatária no uso indevido do dinheiro público. Dilma tentou capitalizar a seu favor as acusações. Chegou a posar como atriz para documentário histórico em Brasília, onde se desenrolava o enredo do seu afastamento definitivo do cargo. A opinião pública não se comoveu. Tinha os olhos postos nas pedaladas fiscais que Dilma cometeu. Também prestou atenção no somatório de provas de irregularidades praticadas no exercício do governo. Dilma era uma despreparada para governar o País, descobriu-se, então. Nao sou eu que vou negar ter havido uma luta frenética dos adversários para queimar Dilma e apeá-la do poder. Mas não só de adversários – também de aliados cansados de serem maltratados por Dilma, de acordo com os relatos que vieram a público.
O desdobramento da Operação Lava-Jato está evidenciando que uma penca de políticos, inclusive muitos dos que votaram pelo impeachment de Dilma, conspurcaram os mandatos recebendo propinas de empreiteiras como a Odebrecht. Instituíram um vergonhoso leilão dentro de Brasília, uma Capital onde é grande a tentação dos políticos em se vender, como diagnosticou, certa feita, em matéria, o jornal O Estado de São Paulo. Esses políticos não escaparão da punição, que virá a galope, logo em 2018. Terão dificuldades para se reeleger ou para se eleger a outros mandatos. Entraram no índex do cidadão comum, cada vez mais exigente e antenado. O julgamento deles está próximo.
Quanto à ex-presidente Dilma Rousseff, segue um script ou um figurino no qual somente ela e alguns mais próximos acreditam. A maioria esmagadora da sociedade não perdoa Dilma, embora não esteja em lua de mel com Michel Temer. A verdade é que Temer foi aceito ou absorvido para que não ruíssem os pilares da democracia constitucional. Não quer dizer que esteja fazendo um ótimo governo ou que seja mil vezes melhor do que Dilma. Muitos de seus ministros estão arrolados em falcatruas. É um panorama triste. Pior ainda é constatar que Dilma não dá o braço a torcer. É vítima, inocente, não fez nada de grave. Seria melhor a ex-presidente poupar brasileiros e brasileiros dessa ladainha.
Nonato Guedes
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