mar 18, 2017 Polícia 804
As escutas da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (17/3), trazem o trecho de uma conversa entre o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), e o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura (Mapa) no Paraná, Daniel Gonçalves Filho. O Metrópoles teve acesso às degravações que acompanham o inquérito policial e embasaram a […]
As escutas da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira (17/3), trazem o trecho de uma conversa entre o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB), e o ex-superintendente regional do Ministério da Agricultura (Mapa) no Paraná, Daniel Gonçalves Filho. O Metrópoles teve acesso às degravações que acompanham o inquérito policial e embasaram a Justiça a expedir os mandados de prisão, busca e apreensão.
Daniel é considerado o líder do esquema de pagamento de propina a servidores públicos por grandes empresas do ramo de alimentação, entre elas a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras.
A conversa ocorreu antes de Serraglio ser nomeado ministro. O então deputado federal procurou Daniel para tentar obter informações sobre uma fiscalização no Frigorífico Larissa. A empresa pertence a Paulo Rogério Sposito, conhecido como Paulinho Larissa. O empresário foi candidato à Câmara dos Deputados nas eleições de 2010 pelo PPS.
Serraglio pede a Daniel, a quem chama de “grande chefe”, ajuda para descobrir o que está ocorrendo durante uma fiscalização na empresa de Paulinho, que fica na cidade de Iporã (PR). “O cara lá que tá fiscalizando lá… apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico”, disse o ministro. O ex-superintendente responde que vai checar.
Veja o trecho:
Após a conversa, Daniel liga para Maria do Rocio Nascimento, chefe do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) de Curitiba (PR) e pede para ela averiguar a situação. Maria do Rocio já responde a inquérito na Polícia Federal por viajar à Europa com despesas pagas pela BRF.
Ela retorna a ligação e informa Daniel que não tem nada de errado. Segundo as investigações, a situação foi relatada a Serraglio posteriormente.
Em conversa com pessoa não identificada, Paulo Sposito é aconselhado a falar com Rocio para trocar de fiscal, porque aquele estaria lhe “enchendo o saco”, e substituí-lo por outro que seria fácil de enrolar e “dinheirista”.
Daniel e Maria do Rocio foram presos nesta manhã. O ministro Osmar Serraglio ainda não se pronunciou sobre as escutas.
Investigações
Segundo as investigações, fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estariam envolvidos em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular das empresas. Em troca, receberiam propina. Certificados sanitários teriam sido emitidos para alimentos que não passaram por qualquer tipo de inspeção, colocando a saúde dos consumidores em risco.
De acordo com a polícia, a Carne Fraca é a maior operação já realizada pela corporação no país. Mais de 1,1 mil agentes estão nas ruas. O esquema seria liderado por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio.
As investigações revelam que as superintendências regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Paraná, Minas Gerais e Goiás “atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público”.
Entre as ilegalidades praticadas está a remoção de agentes públicos com desvio de finalidade para atender a interesses dos grupos empresariais. A conduta permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente.
“Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva”, diz nota da PF.
A PF cumpre 26 mandados de prisão preventiva, 11 de temporária, 195 de busca e apreensão e 79 conduções coercitivas, quando a pessoa é levada para prestar depoimento. A Justiça determinou ainda o bloqueio de R$ 1 bilhão de todos os investigados no caso.
As investigações apontaram, também, que os servidores chegavam a receber até o poder de indicar quem exerceria a fiscalização nas empresas.
Fonte: Metrópoles
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