out 08, 2025 João Pessoa, Vereadores 20
O poeta conversou com a jornalista Edileide Vilaça sobre as peculiaridades da linguagem nordestina e expressões que traduzem a realidade, vivência e sentimentos do povo da região
Intitulado como ‘Prestador de atenção das coisas do mato’, Jessier Quirino é poeta, compositor, intérprete e colunista de rádio, além de arquiteto por formação. Na manhã desta quarta-feira (8), Dia do Nordestino, Jessier Quirino veio à Rádio Câmara de João Pessoa contar como é o jeito de falar nordestino, a convite da Rede Legislativa de Rádio e da Rádio Câmara de Brasília.
O poeta conversou com a jornalista Edileide Vilaça sobre as peculiaridades da linguagem nordestina e sobre expressões que traduzem a realidade, vivência e sentimentos do povo da região. Quando perguntado se há diferença entre a linguagem dos estados do Nordeste, Jessier respondeu que é “tudo uma zoada só”.
“Há um bojo de entendimento muito grande em alguns estados do Nordeste. Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte é uma coisa só, até porque os mapas dos estados se entrelaçam e, nessas mordidas que cada estado dá, é um núcleo de uma fala só. Mas, há um bojo de entendimento para o Nordeste como um todo, como se fossem guetos. Alagoas, por exemplo, é um estado mais distante e pequeno, que é da cana-de-açúcar e ficou sem sertão. Mas Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e até Ceará é uma zoada só”, respondeu.
Jessier Quirino explicou que expressões como ‘onte’, ‘antonte’ para dizer ‘ontem’ e ‘antes de ontem’ são muito comuns. “O sertanejo diz isso com naturalidade”, enfatizou. “Uma coisa curiosa também é ‘fazer arte’, que é ser menino impossível. ‘Menino, tu vai fazer uma arte!’, Fazer arte, é fazer uma impossivagem”, explicou o poeta, citando que quando a gente vai ‘assuntar’, a gente vai pensar; quando tá na ‘caixa prego’, tá no lugar mais distante que existe; que miolo de pote é conversa boba e que ‘diacho’ é o diminutivo ou ainda a forma que o nordestino achou pra não falar diabo.
O poeta afirmou que viaja pelo Brasil e que sente a diferença na linguagem e entendimentos. “Já fui para o Acre, Rio Grande do Sul, Manaus, Tocantins, em feiras de livros e espetáculos. Quando tô em uma região mais distante, procuro temas universais, o contexto em si gera entendimento. Mas, tem algumas expressões que são diferentes, como frutas”, afirmou, contando que em um show uma pessoa riu muito de um causo contado em um espetáculo e, no final, perguntou o que era pitomba.
Apesar de ser natural de Campina Grande, Jessier se considera itabaianense por morar lá desde 1983 e beber da poesia matuta de Zé da Luz, poeta de Itabaiana. ‘Eu parece que tô vendo’ é o nome do livro mais novo de Jessier e faz referência à visualidade das poesias do matuto. “Faz parte desse processo descritivo, passa um cineminha na cabeça do ouvinte. Eles dizem isso”, explicou. E sobre a escrita, ele justificou: “’Eu parece que tô vendo’ se torna mais correto do que ‘parece que eu tô vendo’, é uma forma de se expressar que tem mais exuberância, é mais verdadeira”.
Contador de histórias, Jessier Quirino tem dez livros publicados, inclusive infantis, faz recitais e palestras pelo Brasil. “O bom é isso, transformar uma acontecência em um causo”, afirmou, explicando que suas histórias são todas verdadeiras, por isso não considera piada. Ele destacou também seu canal no Youtube chamado Papel de Bodega, em que ele recebe convidados e o cenário é a junção de tudo que ele ganha. “A minha bodega tem tudo que você pensar. O meu estúdio de receber os convidados tem as coisas que as pessoas me dão”, exemplificou com garrafas de cachaça.
Jessier ainda destacou o importante papel de asseverar a nossa nordestinidade: “Em linguagem de Igreja, quem chama o povo é o sino. E na linguagem brejeira, caririzeira e sertaneja, é Jessier Quirino!”
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