nov 24, 2015 Destaque, Política 1295
Mara Gabrilli pediu que ele se levantasse da cadeira da presidência POR MARIA LIMA A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) em pé na cadeira de rodas, posicionada de frente ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, faz um discurso emocionante que calou o plenário da câmara. Foto: Givaldo Barbosa/Agência O Globo – Givaldo Barbosa / Agência […]
Mara Gabrilli pediu que ele se levantasse da cadeira da presidência
POR MARIA LIMA
A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) em pé na cadeira de rodas, posicionada de frente ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, faz um discurso emocionante que calou o plenário da câmara. Foto: Givaldo Barbosa/Agência O Globo – Givaldo Barbosa / Agência O Globo
BRASÍLIA – Integrante da chapa que elegeu Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) foi a voz que silenciou o plenário anteontem ao encará-lo, e pedir que se levantasse da cadeira porque não tinha mais condições de presidir a Câmara. Com voz suave mas determinada, Mara, no gesto de anteontem, lembrou o discurso do então deputado Fernando Gabeira ao então presidente da Câmara Severino Cavalcanti, antes de sua renúncia.
O que levou a senhora ao desabafo com Eduardo Cunha no qual pediu que ele saísse da presidência da Câmara?
Eu senti a Câmara sendo totalmente desmoralizada por conta da manobra que ele comandou para impedir a sessão do Conselho de Ética, denegrindo nosso próprio Conselho. Vi a ética se esvaindo naquela hora.
Foi uma situação limite?
Tenho certeza disso. Até nas coisas que a gente pensa que não tem ligação, isso interfere. Essa situação está interferindo no meu trabalho diante das pessoas com deficiência. A péssima imagem do Parlamento reverbera em tudo que se faz nesse país. Acabou, não tem mais condições de continuar esse impasse.
A senhora foi eleita para a Mesa Diretora na chapa dele. No desabafo disse que gostava dele, mas que ele estava fazendo a todos de “imbecis”. Como é sua relação com ele?
Temos uma relação profissional. Ele sempre agiu com muita dignidade e respeito com o meu trabalho. Em relação às questões das pessoas com deficiência, Cunha sempre se mostrou muito solícito e compreendedor da causa. Claro que em função disso, sempre ganhou muitos pontos comigo. Mas independente de eu gostar dele, de saber que ele tem respeito por mim e pelo meu trabalho, agora é uma situação que passou a prejudicar o Brasil. E a gente não pode continuar assim.
O seu partido, o PSDB, manteve-se próximo a Cunha até recentemente para tentar encaminhar o impeachment da presidente Dilma. O partido saiu queimado?
Não consigo ver dessa forma. Embora tenha pedido para ele se afastar, o PSDB lhe deu o direito de defesa e a presunção de inocência. Até que ele resolveu fazer uma declaração de defesa subestimando a inteligência de todos nós. A partir daí, o PSDB entendeu que ele não tinha mais nenhuma legitimidade para continuar no cargo e conduzir um processo de impeachment. Ali a gente percebeu que não dá para lutar para tirar uma mentirosa do poder (Dilma), através de uma pessoa que também mentiu. Se não rompêssemos claramente, não teríamos como manter nossa linha de atuação em defesa do impeachment. O impeachment vindo pelas mãos dele perderia a legitimidade. Embora teoricamente ele ainda tenha essa possibilidade nas mãos, perdeu a legitimidade. Não adianta a gente colocar a responsabilidade de tirar uma pessoa que mente, nas mãos de outra que mente. É muita mentira, muito mau exemplo para o Brasil no processo todo.
É questão de exemplo?
Com certeza. O Cunha já sabia há muito tempo que seria presidente da Câmara. Deveria ter se preocupado em arrumar suas contas. Não pode ter como presidente do Parlamento uma pessoa que não declara suas contas.
Agora o PT e governo articulam obstrução do processo no Conselho. O PT conseguirá salvá-lo?
Ah, é uma vergonha, um absurdo. A gente viu essa situação escancarada na fala do deputado Valmir Prascidelli (PT-SP), que veio com aquele história que não era hora de nos manifestarmos, que era preciso dar tempo ao tempo. Uma linha ridícula e vazia, que mostrou que o Palácio do Planalto realmente negociou e está no comando do caso de Cunha.
Para justificar o apoio do PT a Cunha, o ex-presidente Lula tem defendido que a prioridade é garantir a governabilidade.
É um péssimo exemplo. O Lula há muito mistura o público com o privado, o lícito com o ilícito. Não tem credibilidade nenhuma aquilo que o Lula fala. É um mentiroso contumaz e chega uma hora que ele começa a acreditar na própria mentira.
A senhora acredita na cassação ou numa pena mais branda para Cunha, como o afastamento temporário?
Não sei o que vai acontecer no Conselho de Ética ou no Supremo. Mas o que posso dizer é que Eduardo Cunha não é mais um exemplo. A gente não pode manter no cargo de presidente da Câmara, uma pessoa que não seja um bom exemplo para o Brasil.
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E se ele continuar contamina o processo legislativo na Câmara?
O trabalho já está contaminado e principalmente contamina a imagem dos deputados perante o Brasil. Prejudica o trabalho de cada parlamentar. Eu estou lá, me desgasto para trabalhar para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiências, e agora chegou num ponto que ele está atrapalhando.
Quando ficou de pé na cadeira de rodas, frente a frente com Cunha na Mesa, ele ficou mais constrangido ou a senhora, intimidada?
Em nenhum momento eu fiquei intimidada. Eu acho que ele sentiu, no coração, o que eu estava falando. Porque eu fui verdadeira e em nenhum momento eu o agredi. E ele sabe disso. Ele sabe que foi um desabafo que veio do coração. E com certeza ele foi atingido no coração também. Eu conheço os olhares do Eduardo Cunha e a forma que ele se dispersa quando alguém fala alguma coisa que ele não quer ouvir.
Quando o então ministro Gilberto Carvalho estava depondo em uma CPI, frente a frente, a senhora o questionou sobre a morte do ex-prefeito Celso Daniel.
Esse continua sendo um episódio muito importante porque é um crime que continua impune. Naquele dia eu soube que ele estava lá e nunca tinha olhado para a cara do Gilberto Carvalho. Há muito que eu tinha vontade de olhar nos olhos dele e fazer as perguntas que fiz. Meu pai era empresário e era extorquido pelo grupo do PT na prefeitura de Santo André. Vivi isso dentro da minha família.
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