maio 11, 2015 Política 1297
Pela primeira vez desde a ação policial que deixou quase 200 feridos numa manifestação contra sua gestão, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), pediu desculpas à sociedade pelo episódio. “Posso te assegurar: não tem ninguém mais ferido que eu”, afirmou. A entrevista, exclusiva, foi realizada horas depois de o secretário de Segurança Pública, Fernando […]
Pela primeira vez desde a ação policial que deixou quase 200 feridos numa manifestação contra sua gestão, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), pediu desculpas à sociedade pelo episódio.
“Posso te assegurar: não tem ninguém mais ferido que eu”, afirmou. A entrevista, exclusiva, foi realizada horas depois de o secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini (SD), ter pedido demissão.
Foi a terceira baixa no primeiro escalão de Richa desde a ação policial: o secretário da Educação, Fernando Xavier Ferreira, e o comandante da PM, coronel Cesar Vinicius Kogut, também saíram, após pressão da oposição e até da base aliada.
Mas o tucano, que enfrenta uma grave crise de popularidade desde então, disse que a responsabilidade pelo ocorrido também é do sindicato dos professores estaduais, que entraram em greve contra o governo.
Para Richa, o órgão “agiu maldosamente” em relação ao projeto da previdência proposto pelo Estado —o principal pivô das manifestações. Em outra ocasião em que havia falado da ação policial, o governador defendeu a PM e acusou o PT e a CUT de inflar os manifestantes ligados a sindicatos.
Sobre a mudança na previdência, Richa diz que agiu com “coragem” ao propor a mudança, e irá colher os frutos em alguns anos, quando os resultados aparecerem.
Leia trechos da entrevista:
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Folha – Nove dias se passaram desde o confronto. O sr. ainda defende a ação da Polícia Militar?
Beto Richa – O que eu defendi foi o cerco da Assembleia Legislativa [que votava o projeto da previdência]. O episódio foi lamentável, ninguém desejava que isso acontecesse. Eu pedi o tempo todo para a polícia que fosse tolerante, que evitasse o confronto.
Mas isso não aconteceu. A coisa fugiu do seu controle?
Primeiro, eu não estava no controle da operação. Nem aqui no Palácio Iguaçu [em frente à Assembleia] eu estava. Foi uma operação militar.
Há imagens de manifestantes partindo para cima da polícia, de pessoas radicais tirando as pedras do calçamento para atirar nos policiais. Em determinado momento, os policiais ficaram acuados e reagiram.
Agora, se houve excesso, o inquérito é que vai apurar. De forma transparente, imparcial, com a participação do Ministério Público. Qualquer conclusão agora pode ser precipitada. Vamos acompanhar e, havendo responsáveis, que sejam punidos.
O sr. chegou a dizer que havia black blocs com coquetéis molotov no protesto, o que até agora não se confirmou. Faltou credibilidade ao governo?
Veja bem, isso tudo está sendo apurado no inquérito. O inquérito é que vai dizer se isso era verdade, se os materiais existiram, por que eles estavam sendo preparados… Não cabe a mim avaliar isso.
Quem falou foi a secretaria de Segurança. Eu disse: “O relato que eu recebi da Segurança Pública dá conta de pedras, paus, estilingues, material explosivo”. Foi o relato que me passaram. Agora, cabe ao inquérito investigar.
O governo deve desculpas?
Posso te assegurar: não tem ninguém mais ferido do que eu. Eu estou ferido na alma. O mais prejudicado hoje sou eu. Ao meu ver, o governo deve desculpas, sim. E o sindicato dos professores. Devem desculpas à sociedade paranaense e brasileira pelo episódio lamentável que aconteceu aqui na frente.
Por que o sindicato também? Ele não teve responsabilidade pela ação policial.
Mas divulgou erroneamente, irresponsavelmente, para todos os professores e servidores públicos, que eles iriam perder suas aposentadorias. Qualquer pessoa ficaria furiosa com uma informação dessas, que não é verídica. Essa proposta foi construída com o Ministério Público, com técnicos independentes. Mas lamentavelmente você não convence quem não quer ser convencido.
O sr. tem enfrentado protestos em teatros e estádios. Qual a estratégia para retomar a popularidade?
Agindo como sempre agi. Acho que vamos recuperar, com muito trabalho. Não foi fácil fazer o que fiz. Ninguém gosta de aumento de imposto ou taxação de aposentadoria.
Na hora que o Paraná estiver fazendo obras, e outros Estados, que não fizeram sua lição de casa e seus ajustes fiscais, estiverem em dificuldades, a verdade aparecerá.
Eu coloquei em risco, e nem sabia que era tanto, a minha popularidade, minha imagem pessoal, para cumprir minha obrigação com o Estado.
Não foi consequência de má gestão? O próprio secretário da Fazenda diz que o Paraná gastou mais do que devia.
Mas veja, não foi nada ilícito. Foi para fazer o melhor. Talvez eu tenha dado um passo maior que a perna.
Houve muitos investimentos, aumentos salariais. Daí a economia parou, a receita caiu, e tivemos dificuldades, sim. Mas foi na ânsia de fazer o melhor pelo Estado. Eu estou pagando o preço.
O PSDB está preocupado com a possibilidade de seu governo se tornar um alvo contra o partido no país?
Essa preocupação sempre houve. Desde a outra greve, eu já tinha recebido recados de Brasília, não só do meu partido, de que eu e o Geraldo Alckmin somos alvos da oposição. Até para embaralhar esse jogo, depois dos fortes ataques que o PT vem sofrendo.
E de fato: se você for ligar a TV hoje, é só greve de professores. E não só no Paraná. Agora está havendo no Pará, também é governado pelo PSDB. Queira ou não, conseguiram desviar o foco. Pelo menos momentaneamente.
Isso não é querer terceirizar a responsabilidade pelo que houve, governador?
Não estou terceirizando. Esse fato aconteceu. Você não vê manifestações e greves como essas em outros Estados, que não fizeram nem metade do que eu fiz pela educação e pelos professores.
Ainda assim, houve duas greves da categoria este ano e os professores reclamam…
Reclamando de quê? A valorização e o respeito aos professores, eu demonstrei na prática. Falar bem de educação, de professor, todos falam. É bonito, dá votos. Mas eu fiz um grande esforço financeiro para valorizar nossos professores e funcionários. Esta última greve, para mim, não faz sentido.
Folha de S. Paulo